A fronteira entre Portugal e Espanha é actualmente um conceito teórico que no terreno, na ausência de uma evidência natural como de um rio ou de uma montanha, se torna difícil de visualizar. A tecnologia é uma ajuda preciosa e a navegação GPS, à semelhança da candeia que vai à frente, ilumina duas vezes a linha imaginária que tantas vidas reclamou.
Mérida descende da romana Emérita Augusta, a capital da província Lusitânia, que incluía grande parte do território português. O selo de Património da Humanidade, suportado pelo conjunto arqueológico disperso pela cidade, incentiva a uma caminhada. Nem todos os monumentos são de origem romana e a fortaleza árabe Alcazaba, situada junto aos mais de 700 metros da pedonal Ponte Romana sobre o Guadiana, é disso exemplo.
Segui para o Teatro Romano que sem explicação lógica está vedado e escondido por arbustos. Economicamente falando percebo que só assim se consegue cobrar uma entrada exorbitante no recinto. Racionalmente se compreende que o espaço está deserto. O Circo Romano não era visitável e a conjugação da rede envolvente com a vegetação em crescimento antecipa-me que argumentos económicos se farão ouvir.

Na Ponte Romana sobre o Rio Albarregas

Por seu lado o Pórtico do Foro Romano e o Templo de Diana são acessíveis e bem interiorizados no espaço, lado-a-lado com casas e com os carros. Lamentavelmente são pouco cativantes. Mais interessantes são os aquedutos, ou as suas ruínas, que ainda se erguem nos céus. O Acueducto de San Lázaro é um aperitivo para o imponente Acueducto de los Milagros que reina num espaço verde distante da poluição de construções recentes. Há um travo decadente no local… As pedras que parecem equilibradas a custo contrastam com a descontração das cegonhas que ali escolheram fazer o ninho.
No primeiro contacto com Sevilha a famosa noite já se tinha instalado. Talvez seja o calor das terras do sul, mesmo durante a hibernação do inverno, que explique a fama e o proveito nocturno da cidade. As pessoas estão efectivamente na rua sem pudor. Em Triana, e com vista para a Torre del Oro, o hispânico botellón ganha uma dimensão impressionante. Na margem do Guadalquivir a juventude, munida de provisões alcoólicas em sacos, aquece a noite e o corpo com bebidas geladas. É óbvio que o exagero é inevitável e a cerveja impõe vontades fisiológicas que empestam visivelmente as ruas.
A meia dúzia de passos da catedral está o palácio Alcázar que mereceu o preço da entrada. Ao lado estende-se o Barrio de Santa Cruz e as suas apertadas ruas onde se caminha como num labirinto onde a saída nunca se esconde. Sucedem-se as praças com espaços apelativos para comer e beber.

No interior do elevador no Metropol Parasol rumo ao topo

Na Plaza de la Encarnación ergue-se o moderno Metropol Parasol que capta os sentidos pela sua diferença. É um espaço acolhedor, com linhas graciosas, que os locais comparam a cogumelos gigantes. O edifício não é uma simples cobertura ou um terraço de onde se mira toda a cidade. Caminhei ainda até à Plaza de España encostada ao Parque María Luisa.
Mais ou menos elaborada, a comida em Sevilha é boa e os preços não ofendem. O pregão das Tapas é afixado em todos os locais e arrasta seguidores. Para mim o conceito culinário continuará vago enquanto de tudo se fizerem Tapas em dimensões variáveis. Como nem tudo é o que se espera a solução é conhecida: variar, partilhar e degustar, com arte, a melhor parte.
Paulo Vyve

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